domingo, 12 de dezembro de 2010


Vivemos
nós todos uma das mais difíceis épocas da humanidade. Não existem mais
segredos, não existem mais distâncias intransponíveis (a não ser, claro, que
seu destino seja Marte), não existem meias-palavras e nem mesmo meia-sola
(impressionante que os mais novos não entendam gírias como meia-sola, com seu
pequeno conhecimento meia-boca).


Todo e
qualquer comentário transforma-se, necessariamente, em boato. A internet veio
para ficar e alterar padrões insuspeitos de antigamente, porém criou novos
vícios e malcriações.  Fast-food,
fast-livro, fast-entendimento, fast-pouca-vontade, fast-compreensão,
fast-tesão
...

Não, não é saudosismo. É descrédito, acho eu. Apreensão, talvez. Não há mais
como se fiar a uma conversa, pois não existe o registro na internet e depois,
se você quiser conferir se teu interlocutor disse a verdade, não há como buscar
no Google. Viraremos emoticons? Os maus serão vírus, os bons anti-spyware, o
governo um enorme HD, a escola um 486 com impressora Amélia, a família uma comunidade
do Orkut?


O valor
dado aos relacionamentos virtuais é desproporcional ao bate-papo de mesa de
bar. "Oi tuitosfera, estou no bar tal com vários arrobas
interessantes". Prefiro desligar o computador e tomar meu uísque, comer
amendoim salgado (sem casca), escutar um músico cover ruim, ter que chamar um
táxi, tomar a última no posto de gasolina, pagar uma para o taxista que acaba
virando o amigo que deixa o celular ligado nas horas que você precisa. Por
falar nisso, o garçom (ou garçonete) amigo também é o que há. Não chora nas
doses: debulha-se em lágrimas de puro malte. O dono do bar não liga porque sabe
que sempre existe o retorno e, quando se nota, senta na tua mesa para reclamar
da vida que ele não está tocando, porque toca o bar, porque tem que ficar
atento, porque o garçom se debulha em lágrimas salgadas pelo aumento que ele
não pode pagar.


E, por
mais estranho que pareça, há o amor virtual. Avatares photoshopados que mostram,
sei lá, 1/16 do corpo do(a) pretendente dá margem aos sonhos que antes o terno
e a gravata ou o vestido bem cortado permitia. "O que há por baixo de
tanto pano?", pensava-se. Mas isso é de outros tempos, do tempo em que a
Playboy exibia uma tarja preta sobre as genitálias desnudas (em tempo, desnuda
por assim dizer. Moitas de grossos cabelos cobriam qualquer traço, posto que
depiladas não eram moda). Hoje mostra-se de tudo e a todos na vida real,
protege-se no virtual. Uma inversão desproposital. Pelados nos avatares já, bom
mote de campanha. Mas cubram-se na vida real para deixar o sonho do primeiro
beijo com gosto de "Consegui!" e quero mais daqui a pouco, já.


Contra
a internet não. Contra as alterações profundas que anda causando na sociedade.
Não tem aproximado povos mas sim distanciando vizinhos, que só se conhecem se por
acaso ( bem por acaso)frequentarem o mesmo grupo do facebook.


 Bom-senso?
Não. Viver em colméia ou alcatéia, dependendo do sua tendência, mas vivendo
junto de quem caminha sobre os próprios pés.

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