tag:blogger.com,1999:blog-55540779514090958782024-03-13T10:05:19.165-03:00David Nobrega@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.comBlogger43125tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-14785095139819849882011-04-14T12:04:00.000-03:002011-04-14T12:04:50.838-03:00Acidente<em>"Olha moça, eu posso até contar como aconteceu, mas não vai adiantar nada.</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Sou apenas um traste, um dos muitos neste cidadão imenso, a tal capital, lotando cruzamentos com nossas bala, flor e carregador de celular. Ninguém dá valor prá gente - a não ser quando a gente tem garrafinha de água para vender e o trânsito pára -, quanto mais ouvidos.</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Naquele cruzamento deveria ter um semáfro. Eu já havia dito isso antes, mas não mando nada e ninguém presta atenção na gente.</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Vai aparecer em que jornal isso? Preciso lembrar de pedir pro meu moleque gravar isso pra mim. Famoso por um dia, né? Coisa de pobre. Mas sou pobre e honesto e não custa nada deixar gravado pra mostrar pros vizinho.</em><em><br />
</em><em>Bom, voltando ao assunto: O caminhão desembestou lá em cima, perto daquela placa amarela que a senhora pode ver ali em cima, ó. Tá vendo seu câmera? Não, do outro lado! Essa mesma!</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Pois é...ele veio correndo de um jeito que a gente, acostumado a ver acidente aqui já sabia que ia dar mer...quer dizer...ia dar pobrema.</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>O carro da madama ali tava certo sabe? A preferencial é dela e quem cruzou foi o caminhão. Mas também não custava nada o motorista dar uma paradinha e espiá antes de cruzar.</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Não moça. Ninguém sabe direito onde o motorista do caminhão foi parar. Assim que ele viu a mer...quer dizer...a besteira que ele aprontou, deu no pé. </em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>É, fui eu que tirei a criança do banco de trás sim. Tinha muito sangue, mas quando me enfiei no meio dos ferro deu pra ver que o sangue todo era da mãe, deus a tenha. </em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Os bombeiro estavam ali ó, do outro lado do rio. Até eles dar o retorno e voltar aqui, com esse trânsito todo fud...quer dizer...parado, a menininha podia ter morrido. Já pensou se pega fogo nisso tudo aí?</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Ah sim...eles me disse que está tudo nos conforme agora. A mãe não viveu mesmo. O motorista também não.</em><em><br />
</em><em>Mas a menininha essa eu salvei. Deus tava comigo no momento se é que a senhora me entende.Parece que o pai dela já foi lá pras Clínicas buscar ela.</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Recompensa? Não moça. Não quero nada não. A gente faz o que a gente pode e se não for para ajudar os outro, melhor nem viver não é mesmo?</em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Mas bem que a senhora podia ajudar a gente e comprar umas balinha...prum sobrinho talvez? A caixa toda? </em><br />
<em></em><em><br />
</em><em>Por quê você tá chorando moça?"</em>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-53491587098928294972011-04-02T16:42:00.002-03:002011-04-02T16:42:54.394-03:00infinitoSuas buscas internas, solitárias<br />
Imcompreensíveis em sua total extensão<br />
Pobres os sentimentos obtusos e confusos<br />
Desse sombrio mar batido pela ilusão<br />
<br />
Ora. Clama. Me chama. Grita!<br />
Por quê chora a vida perdida?<br />
Espera. Cativa. Me ama?<br />
Regurgita sombras de solição aflita.<br />
<br />
O abismo infinito que nos separou<br />
Em granito selado para a eternidade<br />
Hoje se abre por tua vontade<br />
Sem maldade<br />
Só saudade<br />
É verdade?@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-1510427246554635702011-04-01T18:00:00.000-03:002011-04-01T18:00:38.306-03:00distrações...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-maZ6Agi0-oI/TZY80SjA7zI/AAAAAAAAI1Y/W5tzZXxQ6XI/s1600/mosca.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-maZ6Agi0-oI/TZY80SjA7zI/AAAAAAAAI1Y/W5tzZXxQ6XI/s320/mosca.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A casa onde moro e trabalho é ao estilo alemão antigão, com assoalho de tábua corrida, corredores que parecem cômodos e cômodos que parecem apartamentos. O quarto da frente é onde escrevo e onde passo a maior parte do dia. A janela, imensa, dá de frente para o jardim e assim tenho motivos de distração, para aquelas horas onde é necessário higienizar um tanto a mente, antes de ocupá-la novamente com o cotidiano muitas vezes chato.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>De minha janela vejo pequenos canários-da-terra, aqui mais comuns que pardais (interessante... Depois que mudei para o Rio Grande do Sul, não vi mais os pardais tão comuns em minha São Paulo natal), sabiás-do-campo, bem-te-vis, quero-queros e, no meio dessa passarinhada toda, nosso gato tentando o almoço/jantar/lanchinho.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"> </div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há dias que simplesmente deixo de lado certas obrigações para curtir minha janela. Hoje é um dia que seria assim, contemplativo, mirando de pássaros a passantes, estes em menor número que os primeiros. Mas não me foi possível, porque acabei de notar que deste que instalei meu computador nesta posição, tenho um observador contínuo, tomando conta de todas as linhas que escrevo, de toda ação que planejo. Uma pequena mosca senta-se no canto superior direito da tela, de olho (ou olhos, pois já li em algum lugar que as moscas possuem ocelos recheados de omatídios, mas sinceramente não vou buscar sobre isso no Google agora) em mim.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Pode ser que seja o tal labor da mente ociosa, mas estou começando a acreditar que é a mesma mosca que afugento todo santo dia. Não sei quanto vive uma mosca, mas não devem ser mais que dias, talvez semanas. Então o que será que acontece? Existiria um certo código genético passado de mosca-mãe para moscas-bebezinhos, dizendo onde pousar ou <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a quem vigiar? Seriam os preceitos de reencarnação de algumas religiões, que contam que as almas podem renascer em diferentes espécies de corpos, verdadeiras? Nesse caso esse insetinho nojento pode ser algum desafeto meu. Ou seria um parente? Tio? Existe ainda a possibilidade de que os aliens sejam como aquela baratona do MiB, só que menorzinhos, não é? <em>"Eles já vivem entre nós"</em> e coisa e tal.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Seja lá o que seja, além de um inseto nojento, essa mosca me fez pensar muito hoje. Nada de perguntas clichê, ao estilo <em>"De onde viemos e para onde iremos</em>", mas sim onde se acha um dedetizador em Vera Cruz, minha pequena cidade de adoção, onde o até restaurante fecha ao meio-dia...</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>De tanto pensar só me sobraram duas coisas: este texto que você está lendo agora e a certeza de que na próxima lista de supermercado estará escrito, além de tantas cosiinhas do dia a dia, o item <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Baygon</i>.</div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-67079538659880908222011-02-09T19:47:00.000-02:002011-02-09T19:47:29.624-02:00ruaInútil, <br />
Mas pede, na prece<br />
A quem parte ou aporta<br />
Em todas as portas tortas loucas abertas<br />
Algum degrau acolchoado?<br />
A roupa rota, pouca, miséria estampada<br />
Calada, horizonte distante onde<br />
Sem estrelas nascem teias pretas<br />
Em seu céu imenso descampado<br />
Mesa fria, vazia, sofrido cimento<br />
Querida já não há quem chama<br />
Comer não dá pois de nada será<br />
Remendos em linha grossa<br />
Possa talvez consertar<br />
Vale um dedo de prosa, só assim descobrirá<br />
Tecido gasto da vida já era/fora/queria rosa<br />
Prosa,<br />
Poesia,<br />
Economia, Saúde & Companhia<br />
<br />
Jornal velho, servindo de telhado, biblioteca vazia<br />
Casa com quintal de um mundo imenso<br />
Tenso, imundo, animalesco<br />
<br />
Olho não vejo<br />
Que sob as palavras cruzadas<br />
Há um novo rebento<br />
Magrelo, olhos saltados<br />
Fome de viver, mas todos sabem<br />
Impossível ao relento<br />
Chega alguém e joga dinheiro<br />
Como se cuspisse sobre seu corpo<br />
Inteiro, verminoso, remelento, mal-cheiroso<br />
Sonhado antes melhor<br />
Quando ela tinha outros<br />
A quem chamar<br />
E amar@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-38508600086411077422011-01-24T23:01:00.000-02:002011-01-24T23:01:56.996-02:00Cia-Calma Beth! Ministrando Efeito Placebo no Ego Alheio - Texto de Letícia Coelho e David Nóbrega<div align="center"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/0XiWoA21vWk?fs=1" width="425"></iframe></div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-51926297579990668392011-01-23T17:05:00.000-02:002011-01-23T17:05:27.154-02:00Viagem<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span> O ônibus levantou pó quando partiu, deixando atrás de si a fumaça preta do escapamento cobrindo o rastro da saudade que certamente viria.</div><div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 115%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tantas coisas ainda ficaram para se dizer um ao outro...<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tantos plano para se por ainda em prática...<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quando chegou, poucos dias antes, o coração quase que lhe arrebentava o peito. Faria quanto tempo que não se viam? Dois meses, talvez três? Isso não importava, pois um dia distante já era qualquer coisa de enlouquecedor vazio.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A viagem não havia sido das melhores; partindo de sua cidade, ao norte, em ônibus onde nem se podia reclinar o banco ou mesmo banheiro tinha, demorou quase cinco dias. Lá por perto do meio do caminho, o velho e depredado motor não agüentou, fazendo com que todos ficassem parados um dia todo no acostamento, aguardando que o motorista desse "um jeitinho".<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Claro que isso não o impediria de chegar, mas lhe roubaria momentos importantes de convivência tão esperada.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os pensamentos voam quando se está sozinho. As palavras e gestos de reencontro ensaiados, letra a letra, movimento a movimento.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sabia que isso não adiantaria nada; ao vê-la, com certeza seu coração entraria em saltitante alegria, lhe embotaria os pensamentos e a língua travaria. Já havia acontecido antes e com certeza não seria diferente desta vez.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Dois meses... talvez três. Sem o toque em seus cabelos rebeldes e que insistem sempre em lhe cair aos olhos. Todo esse tempo sonhando em ser um com o outro.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A chegada foi como deveria ser: silêncio mútuo, olhares encabulados e mãos que se buscaram sem a necessidade de ato combinado. Caminharam mudos e felizes até a chegada ao hotel, pequeno para ser chamado assim. Pouco importava, pois seria sua residência por algum tempo.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O primeiro beijo já no quarto, durou para todo o sempre naquele instante. Línguas e lábios que não precisavam nem de sangue para viver e sentir. Toques de mãos, pés, desespero no botão difícil de abrir. Um gozo sem tempo e espaço.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As saudades, antes tão presentes, transformam-se em plenitude abstrata e prazer concreto.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O tempo não pára e já era hora de partir. Os dias correram contra eles, seguindo o prazer tendencioso de encurtar a vida que o relógio e o calendário têm.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>De pé, na plataforma da rodoviária, o beijo antes tão prazeroso tomou o gosto do veneno da despedida. Algumas lágrimas, que secaram ao sol antes mesmo de rolar pela face morena, perfeita.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mas sim, assim tem que provisoriamente ser. Os dois sabem que partilharam pouco da vida, mas que serão seus os dias dentro em pouco. </div><div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 115%;"> Não há tristeza, só a saudade coberta pela fuligem preta</div><div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 115%;">____________________________________________________<br />
<span style="font-size: x-small;"><i>Originalmente publicado em "Uns & Outros" -- 2009 -- ISBN: 978-85-60864-23-2</i></span><br />
</div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-52019495067470878932011-01-22T18:30:00.000-02:002011-01-22T18:30:07.701-02:00Férias<div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Casados há 13 anos, resolveram que era chegada a hora das tais famosas férias conjugais. Haviam visto na novela que os ricos faziam isso, para reacender o relacionamento, sentir o gosto da saudade, respirar um ar que não tivesse sido expelido pelos pulmões do(a) parceiro(a).</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ele agendou na empresa, com dois meses de antecedência. Ela, "do lar", não precisava agendar nada. Bastava reunir umas poucas roupas, dobrá-las de uma maneira que não amassassem muito, colocar sapatos em uma sacolinha de supermercado, escova de dentes na bolsa.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ele foi às compras. Afinal era do tempo da sunga e hoje em dia só se usa bermudas. Precisava também de uma nova camisa, que combinasse com a nova bermuda. E, já que estava ali mesmo, por que não leva a sandália, senhor?</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Na data combinada, ele deu-lhe um longo beijo na testa, virou as costas e entrou no ônibus, com destino à praia onde passara toda a juventude e com certeza haveria algum conhecido que o acompanhasse às farras que já tinha em mente, mesmo tendo jurado por tudo que era sagrado que se comportaria.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ela ficou com o carro. Iria para uma pousada em meio ao verde e planejava descansar, andar por trilhas que não fossem lá muito longas e ler. Claro, banho de sol e piscina.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Foi aí que ela se deu conta de que tinham três filhas. Os planos de viagem foram feitos de maneira conjugal, mas nenhum deles sequer se lembrou de que as meninas teriam que ficar com alguém. A mãe que morava no quartinho dos fundos, já que adoentada não poderia ficar sozinha nem cuidar das crianças, também estava ali. Quatro mulheres, dos 8 aos 80 anos ali, encarando-a.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ligou para a pousada, pediu um quarto maior, fez as malas de todas, comprou mantimentos no mercado, acomodou-as no pequeno carro, partiram para lá longe, para as férias.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ele chegou à praia e após deixar as malas na casa que fora desde sempre de sua família e onde passara a lua de mel, saiu sem rumo, bermuda florida com a etiqueta esquecida pendurada, camisa nova desabotoada. Passou pelo bar do Betão, que não existia mais. Nem o bar nem o Betão, que morrera em um trágico acidente anos antes. No posto dos salva-vidas, encontrou o Efraim, de sunga, tatuado, brinco na orelha esquerda, aliança no dedo. Efraim apresentou-o a um "sobrinho" igualmente tatuado, de sunga, brinco na orelha, aliança no dedo. Por meio deles ficou sabendo que aquela parte da praia "deles" era a parte mais decadente do litoral. Muitos dos que ali moraram haviam se mudado para outros lugares com maior estrutura, outros haviam abandonado a vida a beira-mar e hoje viviam no calor sufocante das grandes cidades. Ele, Efraim, passava ali somente alguns dias a caminho de outras praias mais chiques e com gente bonita. Despediram-se e ele voltou para casa, decepcionado.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Subir a serra para atingir o cume da montanha onde se encontra a pousada escolhida foi um martírio. O pobre carrinho, cheio de gente não necessariamente modelos de passarela, roncou, enroscou marchas, quase ferveu mas, depois de 2 horas de viagem, chegaram. O quarto era espaçoso, com camas bem arrumadas, televisor, cozinha e banheiro com banheira. A <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>vista simplesmente magnífica. As meninas não tiveram dúvida: colocaram os minúsculos biquínis e caíram na piscina. Fora elas, somente um outro casal de idosos estavam ali, assim tinham espaço de sobra para correr, cansar e se divertir. </div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A hora de comer chega em qualquer lugar do mundo e lá se vai ela para a cozinha, assim como fazia todos os dias em casa. Preparar a comida, servir, recolher os restos, lavar a louça e depois, claro, assistir à novela. Enfim, cansada, dormir.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ele bem que tentou ligar para o celular dela, para saber se estavam bem. Não haviam combinado de não se falarem? Mas a saudade aumentava na mesma proporção que a tristeza, causada pela decepção com um lugar que na realidade só existia em suas memórias juvenis. Não existia mais nada ali que fosse como era antes. Mesmo a casa, antes sempre arejada pelo uso contínuo, lembrava uma tumba, bolorenta, o angustiante cheiro de maresia estagnada. Foi quando resolveu tomar uma chuveirada que percebeu que ali realmente não haveria como ficar. Como ninguém aparecia mais ali havia anos, a água fora cortada por falta de pagamento. Também não havia energia, a porta dos fundos não trancava direito e o vento, passando pelas frestas do telhado mal-conservado, fazia barulhos horríveis durante a noite.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Optou por voltar a sua casa no dia seguinte. Um dia longe dela e já sentia sua falta. Mesmo os planos de uma escapulida por coxas outras que não as dela caíram no esquecimento...</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No dia seguinte, enquanto ele se encaminhava para a rodoviária para tomar o ônibus que o levasse de volta a sua vida real, ela servia o café da manhã, lavava a louça, colocava o feijão de molho. Os remédios da mãe, a birra da menor que queria andar a cavalo, a do meio esperneando para conhecer a cachoeira, a maior absorta no celular sem sinal, praguejando baixinho. À hora do almoço, servir, juntar os restos, lavar a louça. Tudo exatamente como em casa, porém com duas diferenças: ele não estava ali e estava pagando por hospedar-se em um lugar afastado de tudo e de todos, trabalhando como se estivesse em casa. Perto das seis da tarde mandou todas arrumarem suas coisas, pois voltariam para casa.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O reencontro dos dois, apenas dois dias distantes um do outro, foi muito parecido com aqueles tempos em que eram somente os dois. Ele viu que chegavam e foi abrir o portão, como há tempos não fazia. Ela desceu do carro e encostou-se contra a porta fechada, enquanto as meninas ajudavam a avó a entrar em casa. Ele chegou devagar, olhou em seus olhos com paixão. Ela enlaçou seu pescoço, inclinado a cabeça e buscando os lábios de seu amor<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>com um beijo adolescente, desajeitado, saudoso...</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nunca mais tiraram férias do amor um do outro.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-18385823324327850672011-01-19T14:20:00.000-02:002011-01-19T14:21:17.226-02:00calamidadeVieram do horizonte<br />
Do nada surgiram<br />
Formas voluptuosas, negras<br />
Corcéis alados em disparada<br />
Desenfreados, cegos, mortais<br />
<br />
Dos olhos raios partiam<br />
Rachando a crua terra ressequida<br />
<br />
Cada pata ferrada<br />
Que das nuvens escapa<br />
Um novo trovão. O ar que assobia<br />
Vento. Redemoinhos de terror<br />
<br />
Deslocam-se rapidamente<br />
Nada os detem.<br />
Um telhado que voa.<br />
Uma árvore que ganha asas<br />
Vidas em perigo, sem abrigo<br />
<br />
As águas sobem<br />
As casa mergulham<br />
Gente que vira peixe<br />
Mergulhando na lama fria<br />
Dizendo adeus a suas vidas<br />
Vazias<br />
<br />
Dali, do alto de seu ninho a vê<br />
Entre ondas, espumas, restos de outro ser<br />
Batalha inglória, a natureza se rebela<br />
<br />
Dali,<br />
Joga-se amarrado pela cintura<br />
Preso pela corda do desespero<br />
O pior momento, dúzias de sonhos delirantes<br />
Girando em torno de si e ela<br />
Cada segundo mais e mais distante<br />
<br />
Abraça águas imundas e as engole<br />
Tira forças do amor, força dominante<br />
O último mergulho quase foi seu último<br />
Mesmo assim, nada ofegante<br />
<br />
Seus dedos agarram seus longos cabelos<br />
(Sedosos eram hoje de manhã, negros<br />
Dispostos sobre seu peito, arfante, pleno)<br />
O barro a cobre e com esforço a socorre<br />
<br />
Alcançam a margem e de costas contra a terra<br />
-- Movediças margens arrastadas --<br />
Olham para o céu onde o espetáculo predomina.<br />
Cansados, embarcam na canoa dos sonhos<br />
<br />
...<br />
<br />
O dia veio e os cavalos partiram<br />
Ela acorda, exausta, sozinha<br />
Ele a deixou durante a tempestade<br />
Carregado desfalecido rio abaixo<br />
Foi viver com a Mãe D´Água<br />
Transformou-se em oferenda<br />
Pagou por sua bem-amada,<br />
Com a própria vida.@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-9353454004324644832011-01-17T12:26:00.000-02:002011-01-17T12:26:45.729-02:00alfabetário<b>A</b>ssassinos <b>B</b>atalham <b>C</b>orajosamente,<br />
<br />
(<b>D</b>emônios <b>E</b>m <b>F</b>alanges)<br />
<br />
<b>G</b>ranjeam <b>H</b>onra <b>I</b>nóqua<br />
<br />
<b>J</b>ulgam-nos <b>L</b>adrões, <b>M</b>ercadores.<br />
<br />
<b>N</b>inguém <b>O</b>pinia, <b>P</b>orém<br />
<br />
<b>Q</b>uando <b>R</b>estam <b>S</b>omente<br />
<br />
<b>T</b>úmulos <b>Ú</b>midos, <b>V</b>azios<br />
<br />
(<b>X</b>amã <b>Z</b>angador)<br />
<br />
<strong>Z</strong>ombeteiros <strong>X</strong>ácaras, <strong>V</strong>ingativos<br />
<br />
<strong>U</strong>rram, <strong>T</strong>orcem <strong>S</strong>aberes<br />
<br />
<strong>R</strong>epetindo <strong>Q</strong>uestionamentos<br />
<br />
<strong>P</strong>obre <strong>O</strong>rigem <strong>N</strong>atural<br />
<br />
<strong>M</strong>alditos <strong>L</strong>amentos <strong>J</strong>açados<br />
<br />
<strong>I</strong>mpedem <strong>H</strong>omens <strong>G</strong>arbosos<br />
<br />
<strong>F</strong>estejar <strong>E</strong>xperiências <strong>D</strong>ivinas<br />
<br />
<strong>C</strong>arentes <strong>B</strong>anidos, <strong>A</strong>margurados.@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-62877168523405161882010-12-18T11:23:00.001-02:002010-12-18T11:24:59.019-02:00UTISe me encontro aqui hoje, é por persistência. Minha vontade de viver é maior que essa profusão de tubos que me mantém vivo.<br />
<br />
Há exatos 6 anos, sofri um gravíssimo acidente, enquanto me encaminhava para o trabalho. Estava chovendo e eu, em minha imprudência valente dos motoristas com algum tempo de habilitação, dirigia a toda velocidade, desviando de poças e buracos de minha cidade. Não estava atrasado nem nada, mas dirigir de maneira agressiva tornou-se um hábito, independente do compromisso ou do leito pelo qual trafegasse.<br />
<br />
Sabe quando você usa óculos e não nota a sujeira se acumulando nas lentes? Parece que o mundo vai perdendo a cor pouco a pouco, chega a pensar que necessita de uma nova consulta com seu oftalmologista, quando na verdade basta uma boa lavada em seus óculos para que tudo retorne a normalidade. Aconteceu algo parecido na hora do acidente: embaçou o vidro, eu me esforçava para enxergar, não vi o caminhão parado na esquina que entrei derrapando pelo excesso de velocidade e deu no que deu. Até hoje, passados tantos anos, me lembro dos números da licença, mal-escritas em vermelho contra o fundo verde da carroceria de madeira.<br />
<br />
Quando acordei estava saindo de uma cirurgia, onde repararam um pulmão perfurado, extraíram meu baço, costuraram alguns pontos em meus intestinos e remendaram alguns tantos ossos partidos, principalmente em meu rosto, braços e pernas. Pela dor que sentia não poderia precisar em quantos lugares eu sofrera algum tipo de injúria. Apaguei de novo e só acordei meses depois...<br />
<br />
Minha primeira recordação aqui da UTI foi a de um enfermeiro me virando para trocar os lençóis. Não sei se vocês sabem, mas os colchões que se usam nos hospitais são revestidos com uma capa plástica, o que faz com que nós, enfermos, transpiremos como uma bica sobre o lençol. É desconfortável mas limpo. Ao menos trocam as roupas de cama uma vez ao dia.<br />
<br />
Minha esposa e meus filhos têm vindo me visitar, ela mais que eles. No começo tinham que barrar minhas visitas, mas com o tempo foram rareando, sobrando apenas a presença diária de minha esposa. Muitos já me condenaram. Estou morto para o mundo e esqueceram de me enterrar. Ouvi isso da boca de um de meus melhores “amigos”, em sua última visita.<br />
<br />
É interessante quando pensam que você não ouve o que dizem. Quase uma sensação vouyerística, se me permitem o termo. Dizem uns aos outros coisas que jamais diriam na minha frente. Como quando um meu conhecido, cliente de longa data, aproveitou o sofrer de minha esposa e, colocando-lhe a mão sobre o ombro, quis consolá-la de uma maneira não muito galante. Dois sonoros tapas dados por ela foram o suficiente para que ele se afastasse, não antes de jurar que ela ainda seria sua. Que ainda ela o procuraria. Esse também nunca mais apareceu.<br />
<br />
Ao lado de minha cama existe outra cama e enfileiradas até o outro lado da imensa sala que é esta UTI, outras mais. Quando me viram de uma lado para o outro para que meu corpo não fique em feridas pelo contato do maldito colchão eu consigo vê-las, iguais em sua forma, diferentes em seus conteúdos. Meu divertimento consiste hoje em descobrir quem seriam essas pessoas, assim como eu enfileirados a espera de suas mortes.<br />
<br />
Na cama mais próxima de mim, à minha esquerda, um paciente asiático, já idoso, teve um derrame. AVC – Acidente Vascular Cerebral. E H, de Hemorrágico. Sinto que se um dia conseguir sair daqui posso clinicar como médico por aí, pois tenho aprendido muito nesta minha universidade forçada. Esse paciente, meu vizinho, deve ter lá seus 65 anos, pouco mais, pouco menos. Seus visitantes são sempre engravatados, aparentados a ele de alguma maneira. Senhora chorosa não há, pelo que suponho seja ele viúvo. Logo mais torno a lhes contar algo que sei deste meu vizinho.<br />
<br />
Pelo que consigo ver de onde me encontro, deitado sobre meu lado esquerdo, com o respirador também a minha esquerda, enriquecendo meu sangue com ar puro, existem ao todo mais oito pacientes.<br />
Numerando-os de 1 a 9, sendo eu o nono, a primeira cama e o ocupante do quinto leito sofrem de uma tal SARA. Não sei o que significaria isso, mas coisa boa não é, já que vi outros pacientes anteriores com esse mal morrerem em questão de dias.<br />
<br />
Ocupando a segunda posição de nosso hit-parade, temos um infartado que acabaram de operar e colocar um marca-passo. Coisa sem graça que nem vale o sacrifício dos comentários.<br />
No terceiro leito, sempre “de lá para cá”, um outro acidentado. Esse teve menos sorte que eu. Perdeu duas pernas.<br />
<br />
O número 4 é interessante e não o perco de vista; é um assaltante perigoso, mas que tem convênio médico, baleado em uma perseguição policial. Eu fiz das tripas coração para poder pagar meu convênio, caríssimo. Esse sem-vergonha, bandido, tem o mesmo convênio que o meu. Garanto que aquele meu carro roubado há alguns anos financiou também o convênio de algum desses safados. Coisas da vida. Fico rezando para que algum dia seus comparsas invadam a UTI para tentar resgatá-lo. Ao menos um pouco de emoção em minha vida...<br />
<br />
Número 6. Uma mulher. Teve, segundo um dos médicos comentou com outro, pré-eclampsia. Algo sobre a pressão subir demais na hora do parto ou algo assim. Coitada...nem vai conhecer o filho. Está já sem sinais cerebrais e vão desligar seus aparelhos logo, logo.<br />
<br />
Apresentados meus colegas, me permitam retornar a meu colega aqui ao lado, que apesar de inconsciente não precisa dessa parafernália toda que tenho para mim para poder viver. O bom velhinho, pelo que entendi, não tem nada de bom. Mafioso, segundo ouvi comentarem. Trazia contrabando da China e revendia aos R$ 1,99 por aí. Coisa que, se entendi direito, além de acabar com os comércios locais ainda fazia com que estes transformassem suas lojas em pontos de venda de seus produtos piratas. O comércio em si era uma grande fachada que encobria, entre outras coisas, tráfico de escravos, jóias e drogas. Ou seja, o perfeito capitalista selvagem.<br />
<br />
Corre a boca pequena, entre murmúrios que escuto da boca da enfermagem, que sua doença não tinha nada a ver com o verdadeiro motivo dele estar ali. Dizem eles que alguém da família havia tentado envenená-lo e o filho mais velho estava pagando para manter o pai naquele local, pois temia que se o levasse para casa, tentando fazer com que ali se restabelecesse, tentassem mais uma vez matá-lo. Se pedirem minha opinião, de quem, está a anos presenciando de tudo que por aqui acontece, diria que quem quer dar cabo do velho é o sobrinho com cabelo tingido.<br />
<br />
Poucos antes deste texto ser escrito, monges budistas vieram orar pelo semi-defunto, tentando encaminhar sua alma de volta para seu corpo. Ou não, sabe-se lá se o chinês loiro não está metido nisso, querendo de vez despachar a alma do tio.<br />
<br />
Começaram com um cântico lento, uma campainha soando ao fundo. Querendo ou não, você acaba fixado nos sons por ele emitidos. A cantilena vai ficando cada vez mais rápida, como se uma onda estivesse se formando nas profundezas do oceano. Cada vez mais os sons, embora não passem de murmúrios quase inaudíveis, vão se tornando uma espécie de zumbido grosso, como um zangão.. Não sei lhes explicar...seria como se você pudesse “apalpar”, “tocar” , na realidade um “sentir-se tocado” pelos sons.<br />
<br />
Não sei mais nada quanto ao velho ali ao lado, mas em mim o ritual teve seu efeito. O que dizem de uma tal luz brilhando no final do túnel é quase que uma verdade total. Quando dei por mim estava de pé, olhando para meu corpo morto, embalado por uma música suave e, acreditem, banhado pelo sol da manhã, que jorrava sobre mim vinda diretamente de algum lugar sobre minha cabeça. Nada mudou, mas ao mesmo tempo me sinto livre. Se alguém conseguir psicografar isto, por favor, avise minha mulher do seguro que está em meu cofre. Despeçam-se de meus filhos. E diga àquele safado que cantou minha mulher ao lado de meu leito, que quando ele sentir um arrepio na espinha, sou eu ali, cuidando para que ele sinta medo pelo resto da vida.<br />
____________________________________________________<br />
<i><span style="font-size: x-small;">Originalmente publicado em "Uns & Outros" -- 2009 -- ISBN: 978-85-60864-23-2</span></i>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-48941926354525773972010-12-14T23:46:00.000-02:002010-12-14T23:46:18.802-02:00ReleituraReli teus verso.<br />
Mais que reler, revivi.<br />
Paredes vermelhas perdidas em outras vidas<br />
Acanhamentos mentirosos, beijos roubados.<br />
Saudades desmedidas<br />
Ansiedades incontidas.<br />
<br />
<br />
Senti teus versos, mais uma vez.<br />
Onde a memória falha,<br />
Linhas grossas me apontam os sinais<br />
De tuas vontades<br />
Necessidades<br />
e tantas coisas mais.<br />
<br />
<br />
Nos encontramos, nos amamos.<br />
Destino ou sina,<br />
busca ou casualidade.<br />
Adjetivos desimportantes,<br />
pequenos nesse grande mar<br />
de amor constante.<br />
<br />
<br />
"Era uma noite sem estrelas"<br />
Mas teu brilho perfeito,<br />
diamante sem jaça,<br />
Sol de chuva, limpo e perfeito,<br />
cegante, revigorante,<br />
Atravessou meus olhos, minha mente<br />
(eu sei, inconsequente)<br />
Se fez presente. Sente?<br />
<br />
<br />
Mais uma vez os versos teus.<br />
Que hoje assumo como também meus.<br />
Por sermos hoje um,<br />
Colados,<br />
Cimentados,<br />
Pelo calor dos olhos teus.@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-13467698957403914512010-12-12T14:28:00.001-02:002010-12-12T14:28:52.917-02:00<br /><br />
<div class="MsoNormal">Vivemos<br />
nós todos uma das mais difíceis épocas da humanidade. Não existem mais<br />
segredos, não existem mais distâncias intransponíveis (a não ser, claro, que<br />
seu destino seja Marte), não existem meias-palavras e nem mesmo meia-sola<br />
(impressionante que os mais novos não entendam gírias como meia-sola, com seu<br />
pequeno conhecimento meia-boca).</div><div class="MsoNormal"><br /><br />
Todo e<br />
qualquer comentário transforma-se, necessariamente, em boato. A internet veio<br />
para ficar e alterar padrões insuspeitos de antigamente, porém criou novos<br />
vícios e malcriações. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i>Fast-food,<br />
fast-livro, fast-entendimento, fast-pouca-vontade, fast-compreensão,<br />
fast-tesão</i>...</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Não, não é saudosismo. É descrédito, acho eu. Apreensão, talvez. Não há mais<br />
como se fiar a uma conversa, pois não existe o registro na internet e depois,<br />
se você quiser conferir se teu interlocutor disse a verdade, não há como buscar<br />
no Google. Viraremos emoticons? Os maus serão vírus, os bons anti-spyware, o<br />
governo um enorme HD, a escola um 486 com impressora Amélia, a família uma comunidade<br />
do Orkut?<br /><br />
<br /></div><div class="MsoNormal">O valor<br />
dado aos relacionamentos virtuais é desproporcional ao bate-papo de mesa de<br />
bar. "Oi tuitosfera, estou no bar tal com vários arrobas<br />
interessantes". Prefiro desligar o computador e tomar meu uísque, comer<br />
amendoim salgado (sem casca), escutar um músico cover ruim, ter que chamar um<br />
táxi, tomar a última no posto de gasolina, pagar uma para o taxista que acaba<br />
virando o amigo que deixa o celular ligado nas horas que você precisa. Por<br />
falar nisso, o garçom (ou garçonete) amigo também é o que há. Não chora nas<br />
doses: debulha-se em lágrimas de puro malte. O dono do bar não liga porque sabe<br />
que sempre existe o retorno e, quando se nota, senta na tua mesa para reclamar<br />
da vida que ele não está tocando, porque toca o bar, porque tem que ficar<br />
atento, porque o garçom se debulha em lágrimas salgadas pelo aumento que ele<br />
não pode pagar.<br /><br />
<br /></div><div class="MsoNormal">E, por<br />
mais estranho que pareça, há o amor virtual. Avatares photoshopados que mostram,<br />
sei lá, 1/16 do corpo do(a) pretendente dá margem aos sonhos que antes o terno<br />
e a gravata ou o vestido bem cortado permitia. "O que há por baixo de<br />
tanto pano?", pensava-se. Mas isso é de outros tempos, do tempo em que a<br />
Playboy exibia uma tarja preta sobre as genitálias desnudas (em tempo, desnuda<br />
por assim dizer. Moitas de grossos cabelos cobriam qualquer traço, posto que<br />
depiladas não eram moda). Hoje mostra-se de tudo e a todos na vida real,<br />
protege-se no virtual. Uma inversão desproposital. Pelados nos avatares já, bom<br />
mote de campanha. Mas cubram-se na vida real para deixar o sonho do primeiro<br />
beijo com gosto de "Consegui!" e quero mais daqui a pouco, já.<br /><br />
<br /></div><div class="MsoNormal">Contra<br />
a internet não. Contra as alterações profundas que anda causando na sociedade.<br />
Não tem aproximado povos mas sim distanciando vizinhos, que só se conhecem se por<br />
acaso ( bem por acaso)frequentarem o mesmo grupo do facebook.<br /><br />
<br /></div><div class="MsoNormal"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Bom-senso?<br />
Não. Viver em colméia ou alcatéia, dependendo do sua tendência, mas vivendo<br />
junto de quem caminha sobre os próprios pés.</div><br />@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-20685970674276958282010-12-06T23:00:00.001-02:002010-12-06T23:02:43.804-02:00FosteO que passa entre os muros?<br />
Tantos os mistérios, tantas histórias...<br />
Pessoas que ali jazem eternamente,<br />
Enquanto o eterno se faça presente,<br />
Ecoam lamúrias pensadas<br />
Sofridas cantigas de vidas impuras<br />
Santos? Não os há...<br />
Nem aqui ou acolá pois, claro<br />
Humanos são seres rasos, <br />
Dançando conforme sua própria músicas<br />
E, logo ali, <br />
Talvez roubando de outros alguns compassos<br />
Ouve o sussurro, trazido pelo vento quente?<br />
São hálitos, bafos, <br />
Os dentes sujos quando existem<br />
Se não, ocos negros, fétidos, vazios absolutos<br />
Negritude perfeita.<br />
Tentam te assustar, com verdades mortas<br />
Com mentiras tortas, essas pessoas esquálidas<br />
Sem pulso na carótida ou aorta<br />
Passe reto, não demonstre medo<br />
Nada podem contra ti, caro companheiro<br />
Vês? São todos diáfanas formas <br />
Folhas levadas pelo tempo, leves<br />
Agora, chegamos a tua cova. Olha!<br />
Teu norme em bronze e mármore,<br />
Gastaram com teu funeral, te sentes bem? <br />
Agradecem tua ausência ou choram tua perda?<br />
Isso pouco importa, pois agora <br />
Dentre tantos gritos absurdos<br />
O teu somente será mais um<br />
Sem patente, sem sangue azul.<br />
Vai, querido. Voa. Te deixa levar.<br />
És diáfano como eles agora,<br />
Fumaça da última tragada.@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-9611398131262649472010-11-19T22:06:00.002-02:002010-11-19T22:06:23.783-02:00PlanitudeNasceu pequeno e chato. Realmente plano, um ser em 2D. Sua mãe, uma cartunista de profissão e lambe-lambe por hobby e prazer, sentiu-se realizada ao receber das mãos do médico aquela imagem viva que era seu filho. O apogeu de uma carreira!<br />
<br />
Logo cedo estampou capas de revistas, nas mais variadas posições, menos em perfil, pois aí simplesmente desaparecia...<br />
<br />
Cresceu, tornou-se ator e no cinema brilhou. Se a vida fora das telas era, em alguns momentos, constrangedora em sua estranheza 3D, as telas planas, de puro algodão, o deixavam extremamente confortável. Um mundo seu.<br />
<br />
Um dia conheceu uma jovem atriz. Encantou-se com ela. Amaram-se em CinemaScope e Dolby Stereo, para delírio da platéia. <br />
<br />
Depois de meses de tórrido amor, romperam barreiras e juntos fugiram para um espelho qualquer, um desfalque de elenco até hoje comentado pelos críticos. <br />
<br />
Segundo algumas revistas de fofoca estão felizes lá do outro lado, onde já possuem uma pequena coleção de criancinhas em 3x4.@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-65291802833154944502010-11-08T12:37:00.003-02:002010-11-08T12:39:36.958-02:00regras<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Encontraram-se como o combinado. Às onze da noite, a lua cheia subindo no horizonte, imensa e gorda, a árvore fazendo sombra dentro das sombras, o banco de sempre. Se alguém dissesse que era um clichê realizado, os dois estariam completamente de acordo: conheceram-se ali, namoraram ali, trocaram juras de amor eterno ali, entregaram-se a desejos íntimos e apressados, ali. E ele a pedira em casamento nesse mesmo local, ali...</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Chegaram, desta vez, de lados opostos da praça. Ela vinda da antiga casa onde partilharam a vida, realizaram os sonhos possíveis e sofreram pelos impossíveis. Ele, subindo a passos largos pela alameda central, vinha de sua nova casa, além dos muros do cemitério da cidade.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Ela sentou-se, as lágrimas escorrendo pelas gretas formadas pelas rugas que os anos lhe presentearam. Ele, de pé a seu lado, tinha a mesma aparência dos anos dourados, quando ficara famoso pelo pé-de-valsa que encantava as moças pelos salões de baile.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>"E aqui estamos, amada minha..." -- pensou ele, dentro da mente dela.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>"Viestes me buscar, meu amado?" -- respondeu ela, com todas as saudades expostas em seu rosto antes tão bonito.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>"Não, não vim. Estou aqui por vontade e pelo combinado que uma dia acertamos. Vim lhe dar prova de que persisto e te espero."</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Escondeu o rosto desapontado com um de seus lencinhos bordados. Queria ir com ele e viver a eternidade a seu lado, como tantas vezes planejaram. Ou melhor, ela havia planejado, já que ele, completamente descrente das magias da vida, só prometeu que compareceria a esse encontro porque ela se zangara com sua pouca fé. E aqui estavam, quase podendo se tocar e ao mesmo tempo tão distantes.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>"Julia, minha vida e minha querida, precisas entender que existem regras que não posso quebrar, mesmo por ti."</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Desde que ele se fora, ela pensara várias vezes em tirar sua própria vida. Não o fizera por saber dessas regras, por vezes tão... Desumanas! Ele se fora há quase quinze anos e para ela pareciam quinze minutos infinitos de dor.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>"Julia, minha amada, precisas voltar agora."</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>"Não quero!" -- disse ela, com a raiva despontando nos belos olhos violetas, hoje embaçados pela idade -- "Vou ficando aqui, onde ao menos ainda posso sentir tua presença".</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>"Não podes, Julia.." -- ele tentou tocar-lhe a face, mas seus dedos a atravessaram como fumaça -- "Tens que voltar. As regras, tu as conheces. Os médicos estão te chamando e enquanto tiveres o sopro da vida em teu corpo, precisas viver. Por mim!"</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Sim, ela sabia que a estavam chamando. Sentia os socos em seu peito e o calor dos medicamentos a envolvendo. Súbito partiu, com a dor do choque que lhe aplicaram ao peito.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Julia viveu ainda o suficiente para ver a neta grávida. Quando nasceu o menino, puseram-no o nome de Raul, em homenagem ao avô falecido a tantos anos. E Julia teve a certeza de que não se encontrariam mais, como o combinado.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>As regras, sempre elas...</div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-40881286357800725032010-10-25T23:13:00.001-02:002010-10-25T23:14:39.255-02:00casualPode-se encontrar com uma das várias gangues que enxameiam a pestilenta madrugada, violentas e despreparadas para a vida.<br />
<br />
A presença constante de facilidades para prazeres mundanos.<br />
<br />
A noite é, pois então, mais um adolescente descobrindo novidades; assim como todos que atravessam escuras horas a procura de verdades que a luz do dia esconde.<br />
<br />
Pois eis-me empreendendo uma nova jornada a procura de algo ou alguém, que me entretenha até mais um novo dia. Caminho só; caçada em bando é algo para lobos e não me considero parte da alcatéia. Aqui por esta movimentada avenida, tantos outros como eu buscam o mesmo prazer.<br />
<br />
Entro em um de seus infernos terrenos, para uma boa dose de conhaque. Está frio e meus pés sentem a necessidade de um calor que par de meias algum pode fornecer. Sento ao balcão, peço meu trago e ouço, ao fundo, acordes de algum novo sucesso, copiado de outras noites já falecidas de minha vida.<br />
<br />
Um conselho: quando for a um bar, sente sempre ao balcão. Não existe lugar melhor para se ver e ser visto. Mesas são para casais que se formaram durante os dias. Amantes noturnos exibem-se em balcões de bares...<br />
<br />
"Faz tempo que não lhe vejo por aqui" -- diz ela que acaba de chegar.<br />
<br />
"Sim. Estava em viagem. Voltei há pouco. Senta, bebe comigo."<br />
<br />
Whisky. Mulher que bebe whisky é sensual. Como aquelas que bebem cerveja são alegres. As dos coquetéis não gosto: muito comportadas. Refrigerantes então, me põe para correr.<br />
<br />
"Então, trabalhando muito?-- me pergunta, enquanto meço cada centímetro daquele busto semi-aparente por entre cortes bem ajustados de tecido leve.<br />
<br />
"Sim e não. Tive trabalho fora da cidade e aproveitei para descansar uns dias longe do frio. E você, não estava por acaso de namoro com F...?" -- "diz que não!"-- penso e rezo.<br />
<br />
"Foi algo passageiro. Nada demais..." -- me responde com a boca úmida pela bebida...os lábios roçando a borda do copo. Ela sabe que sempre tive lá minha queda por suas curvas. Não teria como não perceber meus olhares quando passa por mim, em outros encontros pela noite.<br />
<br />
"Tem planos para logo mais? Digo, a noite está apenas começando." -- Gaguejei? Com certeza.<br />
<br />
Ela encosta, roça, suas maravilhosas coxas nas minhas e me encara, com certa estranheza no olhar. Com certeza aquele não era o primeiro whisky.<br />
<br />
"Me diz o que faremos. Estou em suas mãos. A não ser que você já tenha algo melhor para fazer..." Gargalho por dentro, mas sobriamente, fazendo pose respondo:<br />
<br />
"Não. Nada melhor nem pior. A noite é sua"<br />
<br />
Saímos. O vento começou a soprar mais forte e ela se aconchega a mim. No táxi, o primeiro beijo. Mãos que correm tateando umidades.<br />
<br />
"Mais uma bebida?", pergunto educadamente ao chegarmos em casa. Posso estar com minhas vontades à flor da pele, mas deve-se ser polido, sempre. Ela recusa e me abraça. Me beija. Encosta seu corpo em minha dureza.<br />
<br />
Bocas coladas, peças de roupas arrancadas, tropeços em direção a cama. A simples visão daquele corpo perfeito e despido me torna selvagem. Beijo-o todo. Lambo. Penetro. Variações não programadas. Gozo.<br />
<br />
Ritual: minutos abraçados, respirações apressadas. Banheiro. Cigarro.<br />
<br />
Nada de "foi bom para você?". Sabemos e sentimos que foi. Hipocrisia não cabe em adolescentes noites.<br />
"Te ligo mais tarde", digo mentindo. "Não, não liga. Deixe que seja uma nova surpresa, em outro bar"<br />
<br />
O sol já está despontando quando finalmente parte.<br />
<br />
À luz do dia já não parece a mesma pessoa, com sua maquiagem borrada.<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Palatino Linotype', Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">____________________________________________________</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Palatino Linotype', Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: white;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Palatino Linotype', Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 12px;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: white;">Originalmente publicado em "Uns & Outros" -- 2009 -- ISBN: 978-85-60864-23-2</span></i></span>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-63461469741225243252010-10-12T12:19:00.002-03:002010-10-12T12:19:58.597-03:00funil<div style="text-align: center;"></div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">--></div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">des</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">da-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Sau-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Não</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">des?</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">lida-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">sibi-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Pos-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">dos. </div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">gura-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">amar-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">trados</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">tados, cas-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">cada vez mais aper-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">ção ao nada. Ficamos</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">nil vai-se estreitando, em dire-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">do dia. Com o passar do tempo o fu-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">deixando ao cargo da vontade o tingimento</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">ponsabilidade, sonham sua vida sem cores definidas</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">felizes porque, ao contrário de nos, ditas pessoas de res-</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">os sonhos caibam onde acharmos por bem tê-los. Crianças são</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">mos com todas as possibilidades, com tempo, com espaço para que</div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">--> A vida é um funil emborcado, com seu bico apontando para o céu. Nasce-</div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-74605307710341355792010-10-10T23:14:00.000-03:002010-10-10T23:14:36.100-03:00quatro cavaleirosA bordo passageiros simplórios,<br />
Donos das verdades, mentirosos contumazes,<br />
Ladrões de casaca, defensores de que humanidade?<br />
<br />
<div style="text-align: right;">Entrem e se acomodem, por favor</div><div style="text-align: right;">Partiremos em breve para logo ali</div><div style="text-align: right;">Perto de todos, longe do povo</div><div style="text-align: right;">Todos a bordo!</div><br />
Acomodados? Felizes?<br />
Tomem mais um uísque!<br />
O carrinho com doçuras logo passará.<br />
Assim que a viagem começar.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">Tudo certo, estamos nos trilhos</div><div style="text-align: right;">Preparamos manjares deliciosos</div><div style="text-align: right;">Comissária, tranque as portas</div><div style="text-align: right;">Nosso baile logo começará.</div><br />
O destino é de todos desconhecido<br />
Menos a mim, assim me tenham como amigo<br />
Aqui apareci somente para livrar o mundo<br />
Limpa-lo de vocês, pobres imundos.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">A Conquista é quem vos fala</div><div style="text-align: right;">A Guerra é quem lhes conduz</div><div style="text-align: right;">A Fome poderia ser vosso nome</div><div style="text-align: right;">A Morte é vossa aprendiz</div><br />
No apocalipse de ilusões medíocres<br />
Pensam que estão a salvo?<br />
Serão eternamente dominados<br />
Por todos os sete grandes pecados<br />
<br />
<div style="text-align: right;">E aqui se inicia a punição</div><div style="text-align: right;">Por todos os crimes já cometidos</div><div style="text-align: right;">Queimaremos neste vagão</div><div style="text-align: right;">O poder desmedido</div><div style="text-align: right;">O dinheiro indevido</div><div style="text-align: right;">O saber comprometido</div><div style="text-align: right;">O ego puído.</div><br />
<div style="text-align: center;"><b>Que assim seja...</b></div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-49762849926780494232010-10-08T13:39:00.001-03:002010-10-10T23:06:23.639-03:00memórias<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> Antes do sol nascer e banhar com sua luz mortiça a janela envidraçada e suja, eu já estava acordado. Não deixei o despertador tocar, pois hoje não queria me levantar, trabalhar, aguentar as pessoas que me desprezam na mesma proporção que eu as desprezo. Resolvi que merecia um dia de folga e depois do sonho que me perseguiu a noite toda achei melhor mesmo nem sair da cama. Melancolia profunda, causada pelas recordações em forma de balões e doces caseiros, de pé no barro e brincadeiras que hoje são tratadas como uma deformação de caráter pelos psicólogos infantis. </span></b><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><br />
</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><b> </b></span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> Lembro de estar de volta à infância, calças curtas e joelhos esfolados de alguma queda, a sensação estranha de minha velhice dentro da pequenez de um corpo que já fora meu um dia. Como era difícil alcançar o espelho do banheiro e tentar domar os cabelos sempre em desalinho. A fantástica descoberta de um inseto a ser espetado, os amigos imaginários que viviam dentro dos bonecos e carrinhos de plástico barato com suas peças que, uma vez desencaixadas, nunca mais voltavam às suas posições originais. O café com leite com nata boiando, pão com manteiga de lata.</span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><br />
</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><b> </b></span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> Acordei sobressaltado, empapado de suor, com um aperto no peito que quase me fez chorar, como não fazia desde sei lá quando. Anos de olhos secos, que não mais se maravilham com a vida chata e descolorida. Sentei na cama e enquanto acendia o cigarro memórias intensas desfilaram pela fumaça. Rostos e nomes completos, de amigos que tive em meus tempos de escola, quando pensamos que o amanhã é tão longe que só chegará depois de amanhã, talvez somente semana que vem. Onde será que foram parar os zés e marias de minha vida?</span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><br />
</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><b> </b></span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> A cada novo rosto que me surgia na mente, sentimentos intensos me faziam o corpo velho que já esteve dentro de carnes macias e saudáveis tremer. Aquela menina, a Andréia, com acento, que me ensinou a desenhar passarinhos. O Diogo, parceiro de muitas artes, que uma vez fugiu de casa comigo. Fugimos para a casa dele. Na semana seguinte, ele fugiu para a minha. Morreu cedo, pelo que sei. O Robertão, gigante de nossa turma de segundo ano primário, metia medo em nossos desafetos mas chorava escondido a cada surra que o pai lhe dava. A Eliana, que gostava de brincar de coisas que nos diziam para não fazer, como aquela coisa de ficar com figa e, se pego sem a tal, era obrigado a beijar alguém à escolha do afortunado autor do flagra. Gente, gente, gente. Minhas gentes, distantes nos tempos e ausentes de mim por décadas. Por quê vocês voltaram hoje?</span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><br />
</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><b> </b></span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> Estendi-me na cama novamente, acendi outro cigarro e ali fiquei por horas, fumando minha vida. Batendo cinzas de saudades incômodas no copo da mesa de cabeceira. Perdido em histórias que pertencem a tantos eus, que em certo momento ficou difícil distinguir qual fase de minha vida realmente estava acontecendo. Em um momento, as calças curtas, em outro a arrogância do </span></b><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">jeans </span></b><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">rasgado. Mais adiante, o desamor e a ganância, o terno de risca com camisa azul e punhos brancos.</span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><br />
</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><b> </b></span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> Pessoas confortam-se com suas memórias, como a solitária viúva que espalha pela casa fotos de amor levado pela Morte ou a mãe que leva flores ao túmulo do filho. Eu simplesmente deploro minhas memórias. Me fazem mais velho e mostram o quão inútil fui em minha vida. Conseguem o que ninguém conseguiu: que eu me deteste.</span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><br />
</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><b> </b></span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> Pelo meio da tarde tomei um banho e foi só com grande perseverança que atingi a altura do espelho para me barbear. Minhas pernas, acostumadas à cadeira de rodas não suportam meu peso muito bem. Ao me apoiar sobre a louça cara da pia, tudo veio abaixo e entre estilhaços de memórias que voaram para todos os cantos do piso frio, um atingiu minha garganta, por onde sangue jorra com prazer. Por aquele mínimo orifício escorre minha vida e, para ser sincero, nem fiz menção de tentar contê-lo. </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><br />
</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><b> </b></span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"> </span></b></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">Um acidente oportuno, que fez de mim uma memória pálida em sua vida. </span></b> </div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-16335662431992364862010-09-30T18:12:00.001-03:002010-10-01T06:59:31.359-03:00Do site da <b><a href="http://www.editoranovitas.com.br/component/content/article/1-interna/99-concurso-cultural">Editora Novitas</a></b>:<br />
<br />
<img alt="" src="http://davidnobrega.com.br/images/capafront_.jpg" style="float: left; height: 100px; margin-bottom: 4px; margin-left: 4px; margin-right: 4px; margin-top: 4px; width: 64px;" />Conte-nos em no máximo cinco linhas o que você faria se encontrasse com Deus e o Diabo em um bar.<br />
A resposta mais original ganhará o livro: " Contos que Ninguém Conta" do autor <a href="http://www.davidnobrega.com.br/">David Nobrega</a>.<br />
Envie sua resposta até o dia 04/10 para o e-mail contato@editoranovitas.com.br com o assunto : " Deus e o Diabo". O vencedor será conhecido no dia 5/10.<br />
Boa Sorte!@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-14744186312991567712010-09-29T11:19:00.000-03:002010-09-29T11:19:20.686-03:00guerraEscória é o nome dela<br />
Ambição é sua história<br />
Amoral, sua memória<br />
Assassina humanidade!<br />
Sem valores consistentes<br />
Se faz presente<br />
Matam-se uns a todos<br />
Membros unidos desta cloaca<br />
-- A Terra --<br />
Girando em seu eixo<br />
Um novo raiar, novo dia<br />
E a cada dia uma nova guerra<br />
Quando serão honestos<br />
Esses velhos homens investidos<br />
Do podre e corrompido poder<br />
Tecnocratas e políticos<br />
Manchetes de sangue plantam<br />
Para que aquelas mães<br />
Tantas delas<br />
Possam colher.@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-3041960850572206792010-09-26T15:56:00.002-03:002010-10-19T20:31:00.650-02:00cega criatura<div></div><div style="text-align: right;"><div style="text-align: left;"><b><i>Este texto foi deletado. E o motivo é deplorável: a parte que não foi escrita por mim foi constatado como plágio. Respondo por minhas ideias e não são poucas linhas, perdidas em meio a esse mar de culpa ou vergonha, que me farão menos pobre ou ignorante.</i></b></div><div style="text-align: left;"><b><i><br />
</i></b></div><div style="text-align: left;"><b><i><br />
</i></b></div></div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-87998928634727458522010-09-24T13:20:00.002-03:002010-09-24T13:20:33.118-03:00finalPor onde andarão<br />
Os tempos em passado perfeito<br />
<br />
Rugas transformam meu rosto<br />
A cada uma delas,<br />
Um dia mais morto.<br />
<br />
Não encontro mais<br />
Virtudes de valor antigo,<br />
Como a moral e a decência<br />
Em uma podre sociedade<br />
Em franca decadência<br />
Somem, ultrapassadas<br />
<br />
Que serão das coisas<br />
Vindas de horas de sono perdido<br />
Do trabalho honesto<br />
Conquistadas e queridas<br />
Usurpadas e usadas<br />
Sem valor algum<br />
<br />
Para onde foram as pessoas<br />
Que tanta importância tiveram<br />
Sepultas,<br />
Metamorfoseadas em coisa imunda<br />
Presos nas teias da aranha<br />
Que tece fios de hipocrisia<br />
Enterradas na memória.<br />
<br />
Outros fios se tingem de prata<br />
Adornando a mente jovem<br />
Aprisionada<br />
Uma nova marca, sulco profundo<br />
Os cantos da boca se curvam<br />
Em um sorriso invertido<br />
Prenúncio do bafejar mortal<br />
Que ceifa mais uma vida<br />
Perdida de seus valores<br />
Desapegada de suas coisas<br />
Esquecida por suas gentes.@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-62264743075613634462010-09-23T14:13:00.000-03:002010-09-23T14:13:49.230-03:00CleideEram quatro ao todo: Betão, Biro-Biro, Rubens e Zé Luiz. Quatro pescadores natos, criados em São Paulo, mas com o vício dos grandes rios do Mato-Grosso.<br />
<br />
A pescaria desse ano, como de todos os outros desde que se tem lembrança, seria a bordo de um barco-hotel, longe das barrancas e seus provocativos puteiros.<br />
<br />
Horas de viagem que passavam rapidamente, revezando-se entre eles ao volante do velho ônibus que compraram em sociedade para esse fim.<br />
<br />
Três dos quatro amigos, todos beirando aos 40 anos, eram pais de família, à excessão de Biro-Biro: 'namorador biscateiro', como ele mesmo se definia, não conseguia ficar com a mesma mulher mais que uma ou duas semanas. Por outro lado, também não coseguiria ficar mais que duas noites sem nenhuma.<br />
<br />
Por essas e outras, toda vez que embarcavam no barco que os levaria a pesca, a tralha de Biro-Biro sempre era a maior. É quem além de linhadas e chumbadas, anzóis e molinetes, Biro-Biro carregava Cleide, boneca inflável que lhe fazia companhia nas solitárias noites sem femininos corpos a seu lado. Claro que este era o motivo de gozação predileto entre eles, mas nunca conseguiram com que Biro-Biro deixasse Cleide em casa. "A única mulé que nunca me encheu o saco", repetia sempre após cada nova piada. Como toda piada acaba por perder a graça, pouco se falava sobre a namorada dobrável na mala.<br />
<br />
Segundo consta dos autos de investigação da capitania dos portos, o barco "O Filezão" foi a pique por volta das três da madrugada, horário em que cansados ou bêbados pescadores estão roncando em seus beliches e redes.<br />
<br />
Primeiro, um forte solavanco. Depois o porão fazendo água por um enorme rasgo no casco. Alguma tora perdida na escuridão do rio.<br />
<br />
Gritaria e confusão. Palavrões e pedidos de socorro, enquanto verificavam que os botes salva-vidas não eram suficientes aos 45 ocupantes do "O Filezão". Coletes salva-vidas, em condições piores que fundo de calça de moleque.<br />
<br />
Betão, Rubens e Zé Luiz acordaram com o barulho e subiram para o convés já com água pelas canelas, em meio a peixes mortos e perdidos de seus algozes. Só quando estavam já procurando algo que os fizessem salvos é que notaram a falta de Biro-Biro. Gritaram, procuraram pelo convés...e nada.<br />
<br />
"Já se foi para a água", pensaram. Atiraram-se ao barrento rio, procurando com suas mãos alcançar a margem mais próxima. Nadaram e nadaram...Boiaram... Mas o cansaço de um dia inteiro nem o medo de morrer supera.<br />
<br />
Foi quando, vindo sabe-se lá de onde, uma cabeça morena de longos cabelos emerge. "É Iara, mãe d'água que vem nos buscar!".<br />
<br />
Mas que nada. Sobre Iara estava sentado, despreocupadamente, Biro-Biro. Iara ninguém mais era que Cleide, sua borrachuda namorada. Com uma das mãos, Biro-Biro remava e na outra, arrastava algo do madeirame do barco já morador das profundezas do rio.<br />
<br />
Os três amigos, agarrando-se aos restos do barco, conseguiram por fim boiar até a margem, salvando-se.<br />
<br />
Dizem hoje os que contam essa história que as famílias continuam a se reunir em churrascos, a cada final-de-semana em casa de um ou outro, mas que independente do lugar, há sempre uma bela morena, de vestido novo, sentada em lugar de honra, longe da churrasqueira, para não furar seu corpo de plástico.<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #1c1c1c; font-family: 'Palatino Linotype', Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 12px;">____________________________________________________</span><span class="Apple-style-span" style="color: #1c1c1c; font-family: 'Palatino Linotype', Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 12px;"><br />
</span><span class="Apple-style-span" style="color: #1c1c1c; font-family: 'Palatino Linotype', Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 12px;"><i>Originalmente publicado em "Uns & Outros" -- 2009 -- ISBN: 978-85-60864-23-2</i></span><br />
<div><br />
</div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5554077951409095878.post-60260329019853918912010-09-13T21:45:00.000-03:002010-09-13T21:45:08.961-03:00transição<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Tão substancial é o véu que me cobre os olhos!</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Tão pesada a mortalha que me encerra...</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Sinto por entre suas frestas dedos gelados</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Que corrompem meu ânimo, minha vontade</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">A incoerência de minha vida</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Vívida em minha memória.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Sei ainda dos passos que dei</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Lembro-me de tudo ainda.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Lembro-me de ti!</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Sim, de ti que para os campos dos sonhos</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Foste em delicioso e eterno sono.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Não me é ainda difícil lembrar</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">E por quê não, regozijar</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">De poucas e boas pelas quais passamos</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">E se as passamos, </div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Ombro a ombro, como se deve fazer,</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Por quê não estás aqui?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Deverias ainda, mesmo que por piedade</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">(eu e minha viciosa saudade)</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Estar neste ponto de minha nada vida e aberta morte</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Ajudando-me a atravessar o umbral de tão grande portão.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Te disse algo desnecessário?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Magoei-te? Feri-te?</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Se sim, explica onde, pois não vislumbro</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Onde pequei ou errei.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Se não, me dá tua mão. </div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Diz-me o que fazer.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Qual o som que a harpa deve ter</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Para que os outros vivos lá</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">À beira-mar</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Ouçam minha celestial música</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Em cada onda que a terra quebrar.</div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Por quê não vens?</div>@David_Nobregahttp://www.blogger.com/profile/15374059584281975292noreply@blogger.com0